quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A solidão do homem

Esta semana eu recebi um e-mail de uma leitora que me pediu para não ser identificada. Ela me falou sobre a vida do homem moderno e como "as coisas mudaram nestes últimos tempos". Falou sobre a falta de valores e de como o homem, cada vez mais, está se tornando um solitário por conta disso. Disse também sobre a televisão, onde as notícias versam somente sobre a corrupção, crime e desmandos do poder público, onde agasalhos e remédios doados pelos países mais ricos são deixados para apodrecer no porto por que algum infeliz não soube o que fazer, ajuda solidária para as tragédias da chuva são roubadas e muito mais

Longe de mim contestá-la. Só gostaria de aproveitar o gancho sobre o homem moderno e disser que ainda bem que hoje se pode falar sobre o assunto. Que o homem, durante esta sua estada nefasta na terra tem se comportado como um canalha é um fato inegável.

No passado tinha-se que o homem era a expressão central do universo, mas isso hoje mais parece conversa para se jogar fora ou, no mínimo, a caminhada das ilusões perdidas. Mas se estuda o homem e mais e mais se tem a impressão que o homem biológico é vazio de significado. O que já foi uma obra prima da criação divina mais parece hoje como subproduto acidental e sem sentido.

Na época do obscurantismo o homem se via como um semi Deus, aliás, mesma época em que o homem acredita que as mulheres eram inferiores. O homem se dizia o melhor e suas ações para com os outros era simplesmente uma concessão quase divina. O que mais poderia haver por traz da caridade, da filantropia, e dos outros sentimentalismos do passado? Todas essas tolices eram baseadas na noção que o homem era um animal glorioso e indescritível e que sua existência tinha que ser assegurada a qualquer custo. Obviamente esse raciocínio é de uma estupidez profunda. Dentro do espaço limitado da Terra o homem nada mais é que um animal grosseiro e ridículo.

Acho que nenhum outro animal é tão estúpido e covarde como o homem. Nenhum outro animal é tão incompetente para se adaptar ao próprio meio. Veja a criança; Não é capaz de sobreviver se abandonada por uns dias e é extremamente frágil e doentia e leva essa herança até a morte, mesmo que disfarçada em corriqueiros resfriados. O homem se fere e se cansa com facilidade e é incapaz de sobreviver sem os adornos da vestimenta e das armas. Acho o homem o supremo verme da humanidade. Como a Terra poderia ser muito melhor sem ele, por que de fato, o homem nunca vai para o que é verdadeiro; prefere sempre a soberba e o falso.

Mas como existimos, a resignação seria o melhor remédio. Melhor mesmo seria a conscientização do que realmente somos. Talvez assim, a avidez mórbida da humanidade pelo progresso, possa se canalizar no sentido de abrandarmos nossos defeitos atávicos se preocupando mais com nossos semelhantes. A preocupação com os semelhantes é indiscutivelmente a saída para a solidão. Sem os "outros" somos sós e ainda bem que, pelo menos hoje em dia, estamos nos reconhecendo publicamente como devassos, corruptos e mal feitores. Ainda é pouco, mas acredito que ainda temos chance de sermos alguma coisa que valha a pena, que tenha sentido.

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