terça-feira, 16 de dezembro de 2008

memórias de natal

Desculpe o apressado da hora e acredito que o Senhor não se lembre mais de mim. Ontem me lembrei do Senhor . A última vez que te escrevi faz mais de 50 anos. Gostaria de me justificar e contar com sua sábia compreensão. Naquela época eu deixei de acreditar em Papai Noel, mesmo tendo sido atendido na maioria dos meus pedidos e desejos. Quero agradecer os presentes que recebi e lembro-me da felicidade que sentia em cada natal e da expectativa quase eufórica de esperá-lo até o sono me vencer.

Da carta até o natal eu não me lembro quanto tempo se passava, mas lembro do tempo de espera, da ânsia pela chegada da noite de natal, dos sonhos com meus desejos, da alegria dos preparativos, da minha mãe e da minha avó fazendo a ceia. Quanta alegria e quanta felicidade.

Quero confessar ao Senhor que até agora não sei direito porque deixei de acreditar em Papai Noel. Sei que foi imperdoável. Quanta coisa nova; quanta roupa; quantos brinquedos. Lembro-me de que não sabia qual brincar primeiro e eu precisaria de anos para poder usufruir tudo aquilo. O trem elétrico, o pião, os carrinhos e meu querido e saudoso - “Juco”. “Juco” foi o nome que dei para aquele boneco quase do meu tamanho que o Senhor me deu num dos meus primeiros natais.

Como fiquei feliz com ele. Era quem me dava coragem à noite para dormir; reconfortava-me no meu choro quando eu ganhava umas palmadas; meu conselheiro para as horas de dúvidas; meu parceiro nas brincadeiras, meu confidente e muito mais que isso; meu primeiro grande amigo e companheiro. Obrigado Papai Noel por ter me proporcionado tanta felicidade.

Onde será que o “Juco” esta hoje? Se eu pudesse ainda te pedir alguma coisa era isso que eu queria. Saber o paradeiro do meu amigo, mesmo que ele esteja velhinho e surrado. Queria Papai Noel, pedir perdão a ele por tê-lo perdido e tudo mais que ele representava. Queria disser a ele o que ele representou para mim. Queria resgatar a amizade, a confiança, a esperança, a crença, a alegria que perdi com o “Juco” e mais ainda, queria resgatar minha capacidade de sonhar. Na verdade, Papai Noel, queria sentir a ânsia de esperá-lo de novo, queria sentir o cheiro da cozinha do dia de natal, queria poder brincar de novo.

Papai Noel, o Senhor precisa saber com é bom brincar. Com os carrinhos podemos imaginar altas velocidades em grandes rodovias, perigo dos grandes desfiladeiro e caminhos apertados e, tudo isso nos tapetes da sala ou no terreiro da casa. Com o trenzinho podemos fazer manobras incríveis e viajar para lugares inimagináveis carregando blocos e mais blocos de esperança e tudo isso embaixo da nossa cama. Com os bonecos podemos fazer grandes amizades e ter coragem e confiança para enfrentar os temores da noite e as vicissitudes da vida.

Papai Noel,
Eu queria acreditar em sonhos de novo,
Queria minha mãe de volta,
Queria achar meu amigo “Juco”,
Queria a felicidade ingênua outra vez,
Queria poder dormir te esperando.

Beto.

Um comentário:

Martha disse...

Adorei ... Que lindo!
Acho que todos nós, crianças felizes que tivemos direito a presentes de Natal, gostaríamos de perpetuar a alegria de acreditar em Papai Noel, num bom velhinho capaz de trazer presentes a todas as crianças indistintamente.
Por outro lado, a descoberta da inexistência de Papai Noel foi responsável por vários natais em que a consciência social bateu fundo e a tristeza de saber que muitas crianças não teriam presentes brigava com a minha alegria de saber que o meu presente continuava garantido.